Todo mundo se lembra de algum livro ou algum autor
que marcou a sua infância. Se não a sua infância física, a sua infância
literária...
No meu caso, houve um escritor que influenciou ou, na verdade, criou toda a minha
forma de enxergar a literatura. Fez a minha imaginação voar, prendendo-me horas e horas nos livros, levando-me para os mais diversos e distantes mundos - constelações
celestes, a Grécia Antiga, reinos encantados no fundo do mar, navios piratas e
muito mais... Monteiro Lobato.
Monteiro Lobato (1882-1948) pode ser considerado o
maior escritor infanto-juvenil da história do Brasil; ao longo de sua vida,
lançou diversos livros dos mais variados gêneros, mas é especialmente reconhecido e venerado por ter
criado e dado vida aos personagens do Sítio do Picapau Amarelo.
Emília, Pedrinho, Narizinho, Dona Benta,
Tia Nastácia, Visconde de Sabugosa, Marquês de Rabicó, Cuca... Mesmo quem nunca leu nenhum
livro do autor conhece esses personagens. Afinal, durante muitos anos, a Rede
Globo adaptou algumas das obras de Monteiro Lobato para a telinha...
As adaptações da TV por si próprias marcaram a infância de muitos telespectadores. Mas ela é muito, mas muito inferior aos livros escritos pelo autor. A escrita de Monteiro Lobato permite que o leitor tenha total liberdade para vivenciar as mais fantásticas cenas, nos mais diversos lugares... E tudo isso sem didatismo.
Afinal, por mais que os livros do Sítio do
Picapau Amarelo possam ser classificados como obras infantis, o autor se
utiliza de uma linguagem completamente universal. Sua escrita serve tanto para
crianças como para adultos; afinal, Lobato não subestima a inteligência do
pequeno leitor e, ao mesmo tempo, permite aos leitores mais velhos tanto relembrar
a magia da infância quanto adicionar novas informações e visões para sua vida
adulta.
Monteiro Lobato leva os habitantes do
Sítio do Picapau Amarelo para os mais diversos lugares. Em O Minotauro e Os Doze
Trabalhos de Hércules, livros responsáveis por me fazer apaixonado pela
mitologia e pela cultura grega, os personagens vão para a Grécia Antiga, onde
conhece personagens históricos, como Péricles, e personagens mitológicos, como
Hércules, Belerofonte e, pra falar a verdade, quase todas as figuras da mitologia
grega.
Em Viagem
ao Céu, o autor nos leva literalmente ao céu. Viajamos em caudas de
cometas, através das mais diversas estrelas e, em certo momento, conhecemos até mesmo um
anjinho machucado...
Em O Picapau Amarelo, os personagens do mundo da fábula – o mundo dos
príncipes e princesas dos contos de fadas, dos seres mitológicos etc. – resolvem se mudar para o sítio, trazendo com eles seus animais, terras, mares... E,
enquanto o autor vai descrevendo os personagens e a narrativa se desenrola, a
gente realmente se convence de que aqueles são os personagens cuja história a gente
cresceu ouvindo, embora agora retratados sob uma ótica diferente.
Em Peter
Pan e Dom Quixote das Crianças,
por exemplo, o autor reconta dois clássicos da literatura universal através de
Dona Benta, que narra as histórias para os habitantes do sítio. As narrativas
são entremeadas por pequenas aventuras que acontecem no próprio sítio, além de
diálogos entre os personagens que
debatem e opinam sobre a história que estão ouvindo...
Se eu continuar, vou acabar citando todos
os livros do autor. E esse não é o meu objetivo aqui; aqueles que já leram
Monteiro Lobato certamente compartilham do meu entusiasmo por sua literatura e,
aos que não leram, recomento seriamente. E não se engane; a obra é infantil só
na classificação. No conteúdo, ela conquista jovens, adultos e idosos, sempre no
mesmo espírito de aventura e sempre trazendo novos aprendizados. Afinal, quem
lê Monteiro Lobato aprende muita coisa; desde lendas greco-romanas,
brasileiras, até sobre história, geografia, petróleo e política. Uma literatura
universal e eterna!
por Diego B. Oliveira